sexta-feira, 29 de março de 2019

A minha "opinião" de hoje no JORNAL ECONÓMICO.



Incompreensível

No mundo da gestão não pode ser só o dinheiro a mover vontades. Pelo contrário, o dinheiro deverá ser a contrapartida de um desempenho de excelência.

Uma das principais matérias que se ensina a um aluno do 1º ano de qualquer licenciatura em Economia ou Gestão de Empresas, é que o objectivo máximo de qualquer empresa é o da criação de valor para clientes e accionistas, potenciando para estes últimos toda a sua atitude de gestão. Aprendem-se técnicas de gestão que se consubstancializam numa alavancagem de conhecimentos, por forma a que os gestores consigam atingir os seus objectivos.
É tão importante para o accionista a maximização do seu investimento que procura sempre os melhores e, além disso, institui prémios para o bom desempenho dos seus gestores.
Estes gestores, para que consigam melhorar as suas “performances” e serem apreciados pelo accionista e mercado em geral, frequentam cursos e pós-graduações várias, que lhe vão conferir novas competências ou aperfeiçoando aquelas que já possuem, dando-lhes novas ferramentas para serem sempre os melhores.
Procuram a dinâmica do empresário Schumpeteriano, estando numa atitude de permanente inovação, sempre um passo à frente dos seus concorrentes, sendo referência no mercado e apresentando novas soluções, novos produtos e novos serviços, por forma a manterem sempre a dianteira.
Além dos proveitos financeiros que retiram da excelência e do rigor do trabalho apresentado, capitalizam também respeito e admiração, não só pelos seus accionistas como também por aqueles que são os seus pares no mercado que diariamente disputam.
A apresentação de bons resultados é definitiva para se fazer o julgamento de qualquer gestor. Por vezes (muitas vezes) associa-se o sucesso de determinada empresa ao seu presidente, ao seu Director-Geral ou seja lá quem for a pessoa de máxima responsabilidade nessa organização.
Do meu ponto de vista, nenhum gestor deveria gostar de se ver associado a uma empresa que gere maus resultados. Tal situação compagina e configura um apontamento negativo no seu curriculum, a que todo o gestor quer escapar. Por tudo o que venho dizendo é que encontro bizarro e incompreensível como certos gestores se associam a projectos que, de antemão, já se sabem ser ruinosos e desprestigiantes. Tenho extrema dificuldade em entender essas escolhas.
No mundo da gestão não pode ser só o dinheiro a mover vontades. Pelo contrário, o dinheiro deverá ser a contrapartida de um desempenho de excelência. Faço um enorme esforço e só consigo compreender (muito vagamente) se o leitmotiv que move o gestor para um projecto falido for o seu elevado sentido de missão assente numa fé inabalável, qual anacoreta no seu retiro nos confins de um deserto. Mas sendo este o caso, não deveria receber qualquer retribuição, porque todos os desafios movidos pela fé não deveriam ser pagos. A fé não tem preço! É o acto de se acreditar ou não.

sexta-feira, 1 de março de 2019


Ruído

Uma posição de governador de qualquer banco central deve ser, por excelência, uma posição discreta. Exige uma postura inatacável por parte do titular do cargo. Mas o governador parece não entender esta realidade.

Existem cargos cuja responsabilidade, especificidade e visibilidade exigem discrição, desde logo àqueles que os ocupam, além de competência para um correcto exercício do seu magistério. Sejam eles nomeados ou escolhidos pelo governo, ou por concurso público, deverão sempre tudo fazer para evitar ruído e alarido, que em nada contribuem para um desempenho sem reticências e que, pelo contrário, acrescentam dúvidas e outras questiúnculas, a todos, particularmente aos que se não revêm em comportamentos censuráveis para o cargo.
Vem esta apreciação a propósito dos constantes movimentos de ruído, diria mais, de estridente ruído, que o actual governador do Banco de Portugal (BP), tem causado e arrastado consigo, ao longo do tempo que tem exercido o seu mandado. Sempre critiquei a sua escolha para o cargo. A governação Sócrates cometeu o primeiro erro ao nomeá-lo, e a governação Passos Coelho insistiu no mesmo erro, quando propôs a sua recondução por mais um mandato.
Nunca encontrei que este governador tivesse perfil para um cargo tão importante. Certamente, e em minha opinião, existiam outras pessoas com perfil mais ajustado às exigências que a função compagina, e que teriam certamente um desempenho positivamente bastante distinto. Não me refiro ao último “ruído” a propósito da Caixa Geral de Depósitos – este foi só mais um e a necessitar de explicação mais convincente.
Recordo todo aquele estridente ruído que andou à volta da Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banco Espírito Santo (BES), de onde este governador saiu bastante maltratado. Recordo aqui uma passagem da conclusão dessa Comissão: “Não é a primeira vez que o BP falha na detecção, prevenção e resposta a problemas sérios na banca portuguesa, recordando os caso do BPN e do BPP. A eficácia das actividades de inspecção permanente do BP nos bancos carecem de uma reanálise quanto à sua eficácia, capacidade de identificação precoce de sinais de alarme ou de garantia da implementação de determinações do próprio BP”.
Para não falar da acta rasurada do Banco Central Europeu e apresentada pelo governador do Banco de Portugal à Comissão Parlamentar de Inquérito do BANIF – mais ruído. Ora, com tanto ruído, não entendo como é que o governador do BP encontra que tem condições para continuar na função!
Uma posição de governador de qualquer banco central deve ser, por excelência, uma posição discreta. Exige uma postura inatacável por parte do titular do cargo. E o que é que tem acontecido, pelo menos desde o BES? Um coro de protestos, não só no Parlamento mas na praça pública, na imprensa, nos fóruns próprios de debate, no sentido do governador sair pelo seu próprio pé. Será que não entende que está a mais (há muito tempo) na função?
Não sei se lhe assiste razão ou se, pelo contrário, deveria ser culpabilizado. Não me cabe a mim fazer esse juízo de valor. O que sei é que, com tanto ruído que impende sobre o governador, até para ressalva do seu bom nome, dignidade e honorabilidade, o caminho mais adequado que deveria ter seguido há muito, era o da saída pelo seu próprio pé. Porque com esta intransigência, é a própria instituição que acaba também por ser atingida. Mas o governador parece não entender esta realidade.