quarta-feira, 22 de setembro de 2010

COMENTÁRIO NA SIC NOTÍCIAS - 21.SET.10

"Link" com o meu comentário ao Endividamento das Famílias.
SIC Notícias - Jornal de Economia - 21.Set.10

http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/NoticiasDinheiro/2010/9/a-analise-do-director-da-associacao-das-empresas-de-recuperacao-de-creditos21-09-2010-191349.htm

CRÉDITO MALPARADO – O FESTIM CONTINUA

O Boletim Estatístico do Banco de Portugal, do passado dia 21 de Setembro, não deixa margens para dúvidas – o festim do crédito de cobrança duvidosa ou malparado, continua a sua dinâmica avassaladora de crescimento. No entanto, o comportamento nestes últimos dois meses (Junho e Julho), mostra-nos um novo paradigma – o crédito ao consumo e o crédito para outros finalidades vêm caindo na sua concessão, mas em termos de incumprimento o seu comportamento é imparável – só no ultimo mês, o crédito malparado resultante do crédito concedido ao consumo, aumentou 6,35% – é obra!
Entende-se que as instituições financeiras, com as dificuldades na obtenção de fundos e com a subida do seu custo, se resguardem nos créditos para os quais têm garantias reais – o caso do crédito hipotecário – deixando cair as outras variantes, onde os incumprimentos são maiores e a probabilidade de serem completamente ressarcidos é menor.
No entanto, gostaria de adiantar algumas justificações para este estado calamitoso. Já há muito que venho referenciando a total ausência de contas que os mutuários deveriam fazer. Dois exemplos. No caso do crédito ao consumo, o mutuário só lhe interessa saber qual o montante da “renda”, e de forma sumária, decide desde logo o endividamento nesse produto. Acaso fizesse contas e soubesse que mais de 90% dos créditos concedidos para consumo trazem com eles uma taxa bem superior a 20%, talvez esse facto actuasse como inibidor a esse mesmo endividamento. Outras contas que não são feitas, são aquelas que relevam do endividamento total a que cada mutuário está exposto. Cada mutuário não tem só um crédito, terá sempre mais que três. No momento em que decidiu contrair esses mesmos créditos não fez as contas que se impunham – se o serviço da dívida (amortização de capital + juros) seria acomodado pela dimensão dos rendimentos do seu agregado familiar.
Aqui entronca a minha grande preocupação – isto acontece e vai continuar a acontecer, porque não existem acções profilácticas de sensibilização ao endividamento das famílias, que demonstrem qual o nível de endividamento adequado para cada agregado familiar, contando desde logo com uma almofada de segurança, para situações inopinadas que inevitavelmente irão acontecer ao longo da vida dos empréstimos.
Essa acção de sensibilização profiláctica, há muito que deveria ser tomada pelo Estado central, mas como este lhe volta costas e há muitos cidadãos que necessitam desta ajuda, chegou o momento das Autarquias Locais e muito particularmente as Câmaras Municipais, chamarem a si estas acções. Até por uma questão cívica e de cidadania, as Câmaras Municipais deveriam promover, através dos seus Gabinetes de Acção Social, acções continuadas e discretas de sensibilização profiláctica para o endividamento, junto dos seus munícipes, endividados ou que pensam vir a fazê-lo. Não é tarde para meter mãos á obra. Quanto mais cedo se avançar neste capítulo, mais famílias beneficiarão e como tal, menos danos colaterais se contabilizarão, resultantes dum endividamento não calculado e cujas nefastas consequências sempre arrasta consigo.



           

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

PROFILAXIA DO ENDIVIDAMENTO - UMA PROPOSTA

O fenómeno do Endividamento das Famílias é relativamente recente.


Estamos a falar do seu início em meados da década de 90, com a aposta em massa que as Instituições Financeiras fizeram no Crédito Hipotecário (Habitação). Depois e por arrasto, ou como as Instituições Financeiras muito gostam de referir – por “cross-seling” – aparecem todos os outros créditos conhecidos – Crédito Pessoal, Cartão de Crédito, Crédito Automóvel, Conta-Ordenado, Leasing, ALD, etc.

Sendo o Endividamento relativamente recente e ainda não consolidado, é natural que até essa fase, passe pelas “dores de parto” que todas as situações não consolidadas acabam por sofrer.

Aqui essas “dores de parto” referem-se, obviamente, à falta de sensibilidade por parte dos cidadãos que num certo e determinado momento resolvem endividar-se e às consequências nefastas que se têm pulverizado sobre muitas famílias.

Uma situação de Endividamento mal calculada ou pura e simplesmente não calculada, tem uma grande hipótese de entrar em incumprimento contratual e a partir daí, arrastar o agregado familiar para verdadeiros dramas sociais.

Numa situação que compagina e configura tamanha perigosidade, é confrangedor ver o Estado de braços cruzados.

Compete ao Estado aprovisionar uma estratégia e depois colocá-la no terreno, de forma a informar os cidadãos e a estabelecer uma relação profiláctica relativamente ao nível de exposição creditícia que cada um pode suportar, em função da dimensão dos rendimentos disponíveis do agregado familiar.

De facto, todos temos capacidade de nos endividar, só que essa capacidade difere de cidadão para cidadão. E é justamente a medida desta capacidade, bem com as folgas e almofadas de segurança, que muitos cidadãos não conseguem calcular e que para tal necessitam da ajuda que o Estado não dá.

E como já há muito que venho alertando, seria tão fácil o Estado actuar. Bastaria o Ministério da Economia, com um Instituto do Consumidor dinâmico, estrategicamente competente nesta área e eficiente, para se chegar a todo o país com a ajuda à decisão de Endividamento.

Estou certo, que caso esta situação há muito existisse, não assistiríamos (e iremos continuar a assistir), a verdadeiros dramas sociais, com famílias e auto-estimas destruídas e com acções judiciais e penhoras à mistura.

Em meu entender e como “expert” nesta área, a solução da profilaxia do Endividamento passará na sua grande extensão, pela sensibilização que as Autarquias Locais – Câmaras Municipais e Juntas – poderão fazer junto dos seus munícipes. A abertura, uma vez por semana (um dia ou uma parte do mesmo), de um balcão para esclarecimento de dúvidas dos cidadãos, relativamente aos que se querem endividar e àqueles que já se encontrando endividados, ajudando a encontrar um caminho em que o serviço da dívida, seja mais leve.

Para tanto, só é necessário existir vontade dos nossos Autarcas para dinamizar a estratégia aqui proposta.

Acredito que tal iniciativa, além de ser muito bem recebida pelos cidadãos, iria atingir os seus objectivos, evitando exposições mal calculadas bem como todos os dramas anteriormente referenciados.