terça-feira, 7 de outubro de 2025

 

                 Influencers: os novos mercadores da ilusão

Vivemos uma era em que a fama deixou de ser consequência para se tornar objetivo. Os influencers, figuras fabricadas a partir de filtros e encenações, assumiram o papel de novos “modelos” sociais — e o resultado é preocupante. A sua influência é imensa, mas o seu conteúdo é, na maioria das vezes, vazio, superficial e perigosamente sedutor para quem ainda não tem pensamento crítico formado.

As redes sociais transformaram-se em verdadeiras vitrinas do absurdo. Jovens sem rumo, sem autoestima e sem referências encontram nestes rostos digitais a promessa de sucesso, beleza e aceitação. O problema é que tudo o que lhes é oferecido é uma ilusão cuidadosamente embalada para vender: vender produtos, vender estilos de vida e, sobretudo, vender identidades. A nova geração de consumidores não compra apenas o que os influencers anunciam — compra a própria ideia de ser como eles.

Estes “líderes” modernos tornaram-se marionetas de marcas e algoritmos, repetindo discursos vazios sobre “autenticidade” enquanto escondem contratos milionários e dependência de visualizações. É uma encenação que alimenta vaidades, distorce valores e, sobretudo, molda mentalidades frágeis. O resultado é uma juventude cada vez mais confusa, a medir o próprio valor em “likes” e seguidores, e não em ideias ou conquistas reais.

O fenómeno é tão vasto quanto preocupante: assistimos a uma colonização do pensamento. A indústria da influência não quer cidadãos críticos — quer consumidores dóceis, sempre prontos a clicar, a comprar e a imitar. E muitos influencers cumprem esse papel com uma eficácia assustadora, usando o carisma como arma e a ignorância como isca.

É tempo de encarar a verdade: grande parte dos influencers não influencia — manipula. Alimenta o vazio, normaliza a superficialidade e promove caminhos perigosos para jovens que procuram identidade num mundo que já lhes oferece pouco sentido. Enquanto continuarmos a confundir popularidade com valor, estaremos a entregar o futuro a quem vive de aparências e a quem lucra com a ingenuidade alheia.

Os jovens — aqueles que deveriam ser o futuro — aprendem que pensar é aborrecido, que ler é inútil e que a fama é um direito natural. Vivem a medir o próprio valor em curtidas, partilhas e seguidores, como se a dignidade humana se pudesse quantificar em algoritmos. São vítimas, sim, mas também cúmplices, porque se deixaram seduzir por um mundo que transforma mediocridade em glamour.

Talvez um dia olhemos para esta era com o mesmo espanto com que hoje olhamos para as feiras medievais: um grande espetáculo de ilusões, onde todos fingiam acreditar. Até lá, continuaremos a assistir, entre o riso e a vergonha, à ascensão gloriosa dos influencers — esses profetas do vazio, que pregam ao rebanho digital com um telemóvel na mão e a alma hipotecada ao algoritmo.

 

 

 

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