Influencers: os novos mercadores da ilusão
Vivemos uma era em que a fama deixou de ser
consequência para se tornar objetivo. Os influencers, figuras fabricadas
a partir de filtros e encenações, assumiram o papel de novos “modelos” sociais — e o resultado é
preocupante. A sua influência é imensa, mas o seu conteúdo é, na maioria das
vezes, vazio, superficial e perigosamente sedutor para quem ainda não tem
pensamento crítico formado.
As redes sociais transformaram-se em verdadeiras
vitrinas do absurdo. Jovens sem rumo, sem autoestima e sem referências
encontram nestes rostos digitais a promessa de sucesso, beleza e aceitação. O
problema é que tudo o que lhes é oferecido é uma ilusão cuidadosamente embalada
para vender: vender produtos, vender estilos de vida e, sobretudo, vender
identidades. A nova geração de consumidores não compra apenas o que os influencers
anunciam — compra a própria ideia de ser como eles.
Estes “líderes”
modernos tornaram-se marionetas de marcas e algoritmos, repetindo discursos
vazios sobre “autenticidade” enquanto
escondem contratos milionários e dependência de visualizações. É uma encenação
que alimenta vaidades, distorce valores e, sobretudo, molda mentalidades
frágeis. O resultado é uma juventude cada vez mais confusa, a medir o próprio
valor em “likes” e seguidores, e não em ideias ou conquistas reais.
O fenómeno é tão vasto quanto preocupante: assistimos
a uma colonização do pensamento. A indústria da influência não quer cidadãos
críticos — quer consumidores dóceis, sempre prontos a clicar, a comprar e a
imitar. E muitos influencers cumprem esse papel com uma eficácia
assustadora, usando o carisma como arma e a ignorância como isca.
É tempo de encarar a verdade: grande parte dos influencers
não influencia — manipula. Alimenta o vazio, normaliza a superficialidade e
promove caminhos perigosos para jovens que procuram identidade num mundo que já
lhes oferece pouco sentido. Enquanto continuarmos a confundir popularidade com
valor, estaremos a entregar o futuro a quem vive de aparências e a quem lucra
com a ingenuidade alheia.
Os
jovens — aqueles que deveriam ser o futuro — aprendem que pensar é aborrecido,
que ler é inútil e que a fama é um direito natural. Vivem a medir o próprio
valor em curtidas, partilhas e seguidores, como se a dignidade humana se
pudesse quantificar em algoritmos. São vítimas, sim, mas também cúmplices,
porque se deixaram seduzir por um mundo que transforma mediocridade em glamour.
Talvez
um dia olhemos para esta era com o mesmo espanto com que hoje olhamos para as
feiras medievais: um grande espetáculo de ilusões, onde todos fingiam
acreditar. Até lá, continuaremos a assistir, entre o riso e a vergonha, à
ascensão gloriosa dos influencers
— esses profetas do vazio, que pregam ao rebanho digital com um telemóvel na
mão e a alma hipotecada ao algoritmo.
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