quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

OS PORTUGUESES EM INCUMPRIMENTO CONTRATUAL

Até final do 1º trimestre de 2010, a tipologia dos cidadãos em incumprimento contratual para com as entidades credoras, era enquadrada nas classes D e C2, recorrendo aqui à classificação da pirâmide social portuguesa. Por outras palavras, os cidadãos em incumprimento contratual, de forma generalizada, encontravam-se nas camadas com menores rendimentos.

Entretanto, por contingências várias (a maior parte delas despoletadas pela situação de crise em que o nosso país mergulhou), essa tipologia alterou-se de forma radical.

Hoje podemos dizer, que o incumprimento contratual se estendeu às classes C1 e B, que é como quem diz, transversaliza a pirâmide social portuguesa.
E esta constatação é muito grave. Quer dizer, que muitos portugueses para quem esta situação seria de todo impensável há um ano, estão agora a passar mal.

Mas não é tudo.
Com o advento de 2011 e com as medidas restritivas que aí vêm, muitos mais portugueses irão cair na situação de incumprimento dos seus créditos, ora motivado pelo desemprego ora pela exiguidade do rendimento familiar. Com o aumento do IVA, com cortes nos vencimentos de muitos portugueses e pelo ajustamento (para cima) do IRS, menos rendimento familiar fica disponível, e qualquer uma destas situações, pode fazer a diferença entre continuar a cumprir ou deixar de pagar.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

DE MAL A PIOR.................................

Tal como venho referenciando há largo tempo, uma vez mais o Crédito Vencido ou de Cobrança Duvidosa para os Particulares, voltou a aumentar no mês de Outubro, de acordo com os dados do Boletim Estatístico do Banco de Portugal, do passado dia 23 de Dezembro.

Em termos Totais o crescimento entre Set.10 e Out.10 cifrou-se nuns elevados 2,38%.
Desmontando os crescimentos do Crédito de Cobrança Duvidosa para os Particulares, temos:

Crédito à Habitação – 1,08%
Crédito ao Consumo – 2,86%
Crédito para Outras Finalidades – 4,36%

De salientar, que apesar de no mesmo período o Crédito Concedido ao Consumo e para Outras Finalidades ter decrescido, o de Cobrança Duvidosa para os mesmos agregados cresceu, como se pode observar acima.

Já nas Empresas os valores registados foram ainda bem piores.
Assim entre Set.10 e Out.10 o Crédito de Cobrança Duvidosa aumentou 6,47%.

Tudo isto nos diz, que a situação financeira das Famílias e das Empresas, está mal. E esta situação, ir-se-á agravar ao longo de todo o próximo ano.

Só uma alteração radical nos hábitos das Famílias, poderá atenuar uma situação que se anuncia e se prevê de extremas dificuldades financeiras e sociais.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CUIDADO COM OS GASTOS NAS PRENDAS DE NATAL

Estamos a atravessar uma Quadra Festiva tradicionalmente impulsionadora do Consumo Privado, o mesmo será dizer, que é a época do ano em que mais se consome e em grandes consumos supérfluos.

É normal nesta Quadra (Natal e Ano Novo), querermos presentear os nossos familiares e amigos mais próximos. No entanto, muitas vezes não o fazemos com a prudência que as circunstâncias aconselham.

Estamos a viver um período de crise económica e financeira que nos toca a todos e que sentimos no rendimento (cada vez menos) disponível. Não podemos perder de vista que o próximo ano, por consequência das medidas restritivas aprovadas recentemente com o Orçamento de Estado, vai ser ainda mais difícil.
Então a atitude mais sensata neste momento é poupar.

Troque o consumo imediato pela poupança.
Difira o seu consumo no tempo e adie decisões de consumo.

Racionalize os seus presentes de Natal.
Diminua a sua lista de presentes, quer no número de presenteados quer no valor dessas mesmas prendas.

E pense, pense muito, que a situação se vai agravar e só com medidas defensivas da sua parte, poderá criar uma almofada de segurança que o ponha a salvo, de alguma situação (im) previsível.

Desejo a todos os leitores umas muito Boas Festas e um Ano de 2011 com o mínimo de adversidades.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Crédito Malparado não deixa de crescer - Famílias cada vez com mais dificuldades

O Boletim Estatístico do Banco de Portugal saído esta semana, não deixa qualquer dúvida – o Crédito de Cobrança Duvidosa, vulgarmente apelidado de Crédito Malparado continua a crescer.

Apesar de a concessão de crédito nas suas variantes Consumo e Outras Finalidades ter vindo a cair nos últimos 3 meses, a verdade é que o Crédito de Cobrança Duvidosa, nestas mesmas rubricas tem vindo a aumentar.

A desaceleração da concessão de crédito nestas duas variantes de Crédito a Particulares, está directamente relacionado com duas variáveis: a escassez de crédito nos mercados internacionais interligado ao crescente aumento do seu preço e, por outro lado, a inexistência de garantias reais para as entidades credoras, no caso de um incumprimento contratual.

No entanto, e se olharmos o comportamento do crédito concedido para compra de Habitação, verificamos, que apesar de tudo, vem registando crescimentos, muito ténues, é certo, mas vem crescendo. Este crescimento é explicado em grande parte pela garantia real que lhe está associada e que deixa as instituições credoras mais confortadas.

Assim, e em termos gerais, temos que em Agosto o Crédito Total Concedido a Particulares aumentou 0,12% e o Crédito de Cobrança Duvidosa ou Malparado, aumentou 0,59%, com particular realce para o incremento registado no Consumo e Outras Finalidades – 2,36%.

Também gostaria de deixar aqui bem claro, o enviesamento do modelo de crescimento da economia portuguesa, que há uma meia dúzia de anos inverteu o que deveria ser a dinâmica do crescimento económico sustentado, isto é, o Crédito Concedido às Empresas não Financeiras continua a ser bem menor do que aquele concedido a Particulares. Em Agosto, enquanto que o Crédito Concedido a Particulares se situava nos 140.658 mil milhões de Euros, o Crédito Concedido a Empresas não Financeiras quedava-se pelos 117.596 mil milhões de Euros.
Mais um sintoma de que a economia portuguesa há muito que não se encontra bem.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Endividamento das Famílias – falta visão estratégica

O Endividamento das Famílias, representa hoje uma das grandes preocupações nacionais e que de forma transversal, se instalou em toda a sociedade portuguesa.

O rácio do Endividamento das Famílias/Rendimento Disponível tem vindo em crescendo e o mesmo atesta este grande problema nacional – 123% em 2006; 129% em 2007; 135% em 2008 e 138% em 2009.

Além destes dados muito preocupantes, temos ainda o crédito vencido ou de cobrança duvidosa que, mês após mês, não pára de crescer.
Se analisarmos a evolução destes dois indicadores, facilmente chegamos à conclusão que muitas Famílias estão a passar grandes dificuldades.

Existem quatro grandes motivos pelos quais as Famílias chegam ao incumprimento contratual das responsabilidades creditícias assumidas: Desemprego, Doença, Divórcio e Contas não Feitas ou Mal Feitas.
De todos estes motivos, as Contas não Feitas ou Mal Feitas, representam cerca de 80% dos incumprimentos.

Aqui entronca a minha ideia inicial da falta de visão estratégica que tem norteado as Entidades Centrais – Ministério da Economia e Instituto do Consumidor – ou seja, estes cidadãos necessitam de uma ajuda muito específica. Tal como são ajudados milhares de cidadãos com as várias prestações sociais – Subsídio de Desemprego, Abono de Família, Pensões e Reformas, Rendimento Social de Inserção, etc. – também a ajuda a estes cidadãos endividados ou que se pensam endividar, deve ser vista da mesma forma – uma ajuda imprescindível ao equilíbrio na gestão dos rendimentos dos agregados familiares.

Enquanto nada se avançar neste sentido e se fizer de conta que nada acontece, vamos continuando a assistir à degradação dos núcleos familiares, por falta de ajuda exógena.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mais dificuldades para as Famílias

Com as medidas recentemente anunciados pelo Governo e com a sua posterior aprovação na Assembleia da República, as Famílias irão estar sujeitas a mais sacrifícios e mais dificuldades as vão esperar em 2011.

Ao aumentar o IVA, diminuir as isenções fiscais em sede de IRS e cortar os salários dos funcionários do sector público administrativo, significa menos rendimento disponível para as Famílias.
Significa que existem Famílias endividadas, que neste momento conseguem com extrema dificuldade assegurar o cumprimento do serviço da dívida, mas que deixarão de ter condições para assim continuarem, indo engrossar o contingente daqueles que se encontram em incumprimento contratual com as entidades credoras.

Também o desemprego vai aumentar. Pois se as Famílias têm um rendimento disponível menor, logo a sua procura dirigida à generalidade dos bens e serviços diminui, então as empresas não necessitam produzir tanto, por consequência também não precisam do mesmo número de trabalhadores.

Como é fácil de perceber, tempos ainda mais difíceis se aproximam.
Perante este cenário, o apelo à poupança é prioritário, tal como, uma exigente gestão dos rendimentos disponíveis das famílias.
Nunca como agora se tornou tão imperioso não se endividar.


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

COMENTÁRIO NA SIC NOTÍCIAS - 21.SET.10

"Link" com o meu comentário ao Endividamento das Famílias.
SIC Notícias - Jornal de Economia - 21.Set.10

http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/NoticiasDinheiro/2010/9/a-analise-do-director-da-associacao-das-empresas-de-recuperacao-de-creditos21-09-2010-191349.htm

CRÉDITO MALPARADO – O FESTIM CONTINUA

O Boletim Estatístico do Banco de Portugal, do passado dia 21 de Setembro, não deixa margens para dúvidas – o festim do crédito de cobrança duvidosa ou malparado, continua a sua dinâmica avassaladora de crescimento. No entanto, o comportamento nestes últimos dois meses (Junho e Julho), mostra-nos um novo paradigma – o crédito ao consumo e o crédito para outros finalidades vêm caindo na sua concessão, mas em termos de incumprimento o seu comportamento é imparável – só no ultimo mês, o crédito malparado resultante do crédito concedido ao consumo, aumentou 6,35% – é obra!
Entende-se que as instituições financeiras, com as dificuldades na obtenção de fundos e com a subida do seu custo, se resguardem nos créditos para os quais têm garantias reais – o caso do crédito hipotecário – deixando cair as outras variantes, onde os incumprimentos são maiores e a probabilidade de serem completamente ressarcidos é menor.
No entanto, gostaria de adiantar algumas justificações para este estado calamitoso. Já há muito que venho referenciando a total ausência de contas que os mutuários deveriam fazer. Dois exemplos. No caso do crédito ao consumo, o mutuário só lhe interessa saber qual o montante da “renda”, e de forma sumária, decide desde logo o endividamento nesse produto. Acaso fizesse contas e soubesse que mais de 90% dos créditos concedidos para consumo trazem com eles uma taxa bem superior a 20%, talvez esse facto actuasse como inibidor a esse mesmo endividamento. Outras contas que não são feitas, são aquelas que relevam do endividamento total a que cada mutuário está exposto. Cada mutuário não tem só um crédito, terá sempre mais que três. No momento em que decidiu contrair esses mesmos créditos não fez as contas que se impunham – se o serviço da dívida (amortização de capital + juros) seria acomodado pela dimensão dos rendimentos do seu agregado familiar.
Aqui entronca a minha grande preocupação – isto acontece e vai continuar a acontecer, porque não existem acções profilácticas de sensibilização ao endividamento das famílias, que demonstrem qual o nível de endividamento adequado para cada agregado familiar, contando desde logo com uma almofada de segurança, para situações inopinadas que inevitavelmente irão acontecer ao longo da vida dos empréstimos.
Essa acção de sensibilização profiláctica, há muito que deveria ser tomada pelo Estado central, mas como este lhe volta costas e há muitos cidadãos que necessitam desta ajuda, chegou o momento das Autarquias Locais e muito particularmente as Câmaras Municipais, chamarem a si estas acções. Até por uma questão cívica e de cidadania, as Câmaras Municipais deveriam promover, através dos seus Gabinetes de Acção Social, acções continuadas e discretas de sensibilização profiláctica para o endividamento, junto dos seus munícipes, endividados ou que pensam vir a fazê-lo. Não é tarde para meter mãos á obra. Quanto mais cedo se avançar neste capítulo, mais famílias beneficiarão e como tal, menos danos colaterais se contabilizarão, resultantes dum endividamento não calculado e cujas nefastas consequências sempre arrasta consigo.



           

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

PROFILAXIA DO ENDIVIDAMENTO - UMA PROPOSTA

O fenómeno do Endividamento das Famílias é relativamente recente.


Estamos a falar do seu início em meados da década de 90, com a aposta em massa que as Instituições Financeiras fizeram no Crédito Hipotecário (Habitação). Depois e por arrasto, ou como as Instituições Financeiras muito gostam de referir – por “cross-seling” – aparecem todos os outros créditos conhecidos – Crédito Pessoal, Cartão de Crédito, Crédito Automóvel, Conta-Ordenado, Leasing, ALD, etc.

Sendo o Endividamento relativamente recente e ainda não consolidado, é natural que até essa fase, passe pelas “dores de parto” que todas as situações não consolidadas acabam por sofrer.

Aqui essas “dores de parto” referem-se, obviamente, à falta de sensibilidade por parte dos cidadãos que num certo e determinado momento resolvem endividar-se e às consequências nefastas que se têm pulverizado sobre muitas famílias.

Uma situação de Endividamento mal calculada ou pura e simplesmente não calculada, tem uma grande hipótese de entrar em incumprimento contratual e a partir daí, arrastar o agregado familiar para verdadeiros dramas sociais.

Numa situação que compagina e configura tamanha perigosidade, é confrangedor ver o Estado de braços cruzados.

Compete ao Estado aprovisionar uma estratégia e depois colocá-la no terreno, de forma a informar os cidadãos e a estabelecer uma relação profiláctica relativamente ao nível de exposição creditícia que cada um pode suportar, em função da dimensão dos rendimentos disponíveis do agregado familiar.

De facto, todos temos capacidade de nos endividar, só que essa capacidade difere de cidadão para cidadão. E é justamente a medida desta capacidade, bem com as folgas e almofadas de segurança, que muitos cidadãos não conseguem calcular e que para tal necessitam da ajuda que o Estado não dá.

E como já há muito que venho alertando, seria tão fácil o Estado actuar. Bastaria o Ministério da Economia, com um Instituto do Consumidor dinâmico, estrategicamente competente nesta área e eficiente, para se chegar a todo o país com a ajuda à decisão de Endividamento.

Estou certo, que caso esta situação há muito existisse, não assistiríamos (e iremos continuar a assistir), a verdadeiros dramas sociais, com famílias e auto-estimas destruídas e com acções judiciais e penhoras à mistura.

Em meu entender e como “expert” nesta área, a solução da profilaxia do Endividamento passará na sua grande extensão, pela sensibilização que as Autarquias Locais – Câmaras Municipais e Juntas – poderão fazer junto dos seus munícipes. A abertura, uma vez por semana (um dia ou uma parte do mesmo), de um balcão para esclarecimento de dúvidas dos cidadãos, relativamente aos que se querem endividar e àqueles que já se encontrando endividados, ajudando a encontrar um caminho em que o serviço da dívida, seja mais leve.

Para tanto, só é necessário existir vontade dos nossos Autarcas para dinamizar a estratégia aqui proposta.

Acredito que tal iniciativa, além de ser muito bem recebida pelos cidadãos, iria atingir os seus objectivos, evitando exposições mal calculadas bem como todos os dramas anteriormente referenciados.