terça-feira, 16 de setembro de 2014




         A MULA DE TALES

 

Desde logo, se impõe um esclarecimento sobre o que irei escrever: conferem-me toda a legitimidade, os 30 anos que passei na Banca, 20 dos quais na Alta Direcção do banco mais sólido da Euro Zona.   

O processo do BES/Novo Banco, ficou eivado de equívocos desde o início.

O que aconteceu na passada semana (demissão da Administração indigitada), não me surpreendeu. Aliás, em vários locais adequados, entre eles a ETV (Conselho Consultivo), tive oportunidade, de logo que conhecida a equipa de gestão, vaticinar a sua curta vida.

O maior tiro no pé, foi dado pelo Regulador – Banco de Portugal – ao indicar a Administração. Como é possível que para um processo que se antevia de dificílima resolução, fosse indicar três pessoas sem qualquer experiência bancária? O B.P. ou quem o dirige, deveria saber que gerir um banco requer muitos anos de experiência no sector. Logo as pessoas indicadas, foram as menos indicadas. Para mim, com um prazo de validade reduzidíssimo. Não venham com justificações que o projecto entretanto alterou-se. Basta estar atento, à falta de visão estratégica manifestada neste curto espaço de tempo, à fuga fortíssima de depósitos, preocupação, aliás, plasmada nos trabalhadores do Novo Banco. Aqui o segundo tiro no pé – para a Administração que aceitou uma tarefa para a qual não estava preparada, não tinha experiência nem competência, como se veio a verificar.

O terceiro tiro no pé, vai para o Governo, para o primeiro-ministro e ministra das finanças – não podem assobiar para o lado, e pôr o ónus da desgraça só no Regulador. Deveriam ter intervindo de outra forma. Nomeando para tão difícil tarefa, pessoas com experiência e inequívocas provas de excelência dadas no sector.

Então o que mudou agora, para num repente convidarem quem tem experiência e provas dadas no sector? Falo só no presidente, pois desconheço os outros três membros que o acompanham. Por que razão, a nomeação/indigitação inicial não respeitou estes parâmetros? Alguém que responda. Eu não o sei fazer.

Relativamente a Stock da Cunha, atesto o seu conhecimento do sector, até pelos muitos anos que com ele compartilhei a Alta Direcção do mesmo Banco. Sei que agora o Novo Banco vai cumprir o seu objectivo – ser conveniente preparado, para num curto espaço de tempo ser vendido e dessa forma, o Estado ser ressarcido do valor com que o capitalizou.

No entanto, não podemos esquecer que o Banco andou a perder tempo, clientes e recursos. Tudo poderia ser evitado se no início tivessem tomado as decisões acertadas.

Mas é assim em Portugal.

Olho para o Banco de Portugal e Governo e não consigo deixar de pensar na mula de Tales!

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