BENS TRANSACCIONÁVEIS – A ALAVANCA DO
CRESCIMENTO DA ECONOMIA
PORTUGUESA
Nas últimas décadas, a economia portuguesa tem enfrentado
múltiplos desafios estruturais, desde a baixa produtividade à dependência do
consumo interno e do endividamento. Nesse contexto, a aposta nos bens
transacionáveis — ou seja, bens e serviços que podem ser
comercializados no mercado internacional — revelou-se uma alavanca essencial
para um crescimento económico mais sustentável, competitivo e resiliente.
Os bens transacionáveis têm um papel central no reequilíbrio
externo da economia. Após a crise da dívida soberana, Portugal
viu-se forçado a repensar o seu modelo económico, abandonando a dependência
excessiva da procura interna e redirecionando o foco para as exportações.
A resposta veio de setores como o têxtil, o calçado, a metalomecânica, a
agricultura e a indústria automóvel, que conseguiram não só sobreviver, mas
prosperar, em parte graças a investimentos estratégicos em inovação, qualidade
e internacionalização.
Esta reorientação estratégica teve impactos positivos na balança
comercial, contribuindo para reduzir o défice externo e
reforçar a posição do país no contexto europeu. Mais do que isso, as
exportações são hoje responsáveis por uma fatia significativa do PIB nacional,
o que representa uma importante conquista para uma economia outrora muito
fechada ao exterior.
Contudo, o sucesso dos bens transacionáveis não ocorre
isoladamente. Ele depende fortemente da atração de investimento produtivo, tanto nacional
como estrangeiro. Investimentos em tecnologia, infraestruturas, qualificação da
força de trabalho e investigação e desenvolvimento (I&D) são fundamentais
para elevar o valor acrescentado dos produtos portugueses e conquistar mercados
mais exigentes. A aposta em cadeias de valor mais sofisticadas e na
diversificação dos mercados de exportação é um caminho essencial para
consolidar o crescimento.
Adicionalmente, a valorização dos
bens transacionáveis tem um impacto positivo no emprego
qualificado, promovendo melhores salários e estimulando a
fixação de talento em território nacional. A economia ganha em coesão social e
territorial, especialmente quando as exportações emergem de regiões fora dos
grandes centros urbanos.
É certo que o setor dos bens não transacionáveis — como o
imobiliário e alguns serviços internos — continua a desempenhar um papel
importante na economia portuguesa. No entanto, estes setores tendem a gerar
crescimento de curto prazo, muitas vezes apoiado em bolhas especulativas ou
consumo financiado por crédito. Ao contrário, os bens transacionáveis impõem
disciplina produtiva e são um motor de crescimento sustentado.
Em suma, o futuro da economia portuguesa depende, em grande
medida, da sua capacidade de reforçar a competitividade externa. Para isso, é
imperativo continuar a apoiar os setores exportadores, atrair investimento de qualidade e criar condições para que os bens
transacionáveis liderem o crescimento.
Não se trata apenas de vender mais ao exterior, mas de transformar
a estrutura produtiva do país rumo a um modelo mais inovador, equilibrado e
duradouro.
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