quinta-feira, 21 de agosto de 2025

 


BENS TRANSACCIONÁVEIS – A ALAVANCA DO CRESCIMENTO DA ECONOMIA   

PORTUGUESA

 

Nas últimas décadas, a economia portuguesa tem enfrentado múltiplos desafios estruturais, desde a baixa produtividade à dependência do consumo interno e do endividamento. Nesse contexto, a aposta nos bens transacionáveis — ou seja, bens e serviços que podem ser comercializados no mercado internacional — revelou-se uma alavanca essencial para um crescimento económico mais sustentável, competitivo e resiliente.

Os bens transacionáveis têm um papel central no reequilíbrio externo da economia. Após a crise da dívida soberana, Portugal viu-se forçado a repensar o seu modelo económico, abandonando a dependência excessiva da procura interna e redirecionando o foco para as exportações. A resposta veio de setores como o têxtil, o calçado, a metalomecânica, a agricultura e a indústria automóvel, que conseguiram não só sobreviver, mas prosperar, em parte graças a investimentos estratégicos em inovação, qualidade e internacionalização.

Esta reorientação estratégica teve impactos positivos na balança comercial, contribuindo para reduzir o défice externo e reforçar a posição do país no contexto europeu. Mais do que isso, as exportações são hoje responsáveis por uma fatia significativa do PIB nacional, o que representa uma importante conquista para uma economia outrora muito fechada ao exterior.

Contudo, o sucesso dos bens transacionáveis não ocorre isoladamente. Ele depende fortemente da atração de investimento produtivo, tanto nacional como estrangeiro. Investimentos em tecnologia, infraestruturas, qualificação da força de trabalho e investigação e desenvolvimento (I&D) são fundamentais para elevar o valor acrescentado dos produtos portugueses e conquistar mercados mais exigentes. A aposta em cadeias de valor mais sofisticadas e na diversificação dos mercados de exportação é um caminho essencial para consolidar o crescimento.

Adicionalmente, a valorização dos bens transacionáveis tem um impacto positivo no emprego qualificado, promovendo melhores salários e estimulando a fixação de talento em território nacional. A economia ganha em coesão social e territorial, especialmente quando as exportações emergem de regiões fora dos grandes centros urbanos.

É certo que o setor dos bens não transacionáveis — como o imobiliário e alguns serviços internos — continua a desempenhar um papel importante na economia portuguesa. No entanto, estes setores tendem a gerar crescimento de curto prazo, muitas vezes apoiado em bolhas especulativas ou consumo financiado por crédito. Ao contrário, os bens transacionáveis impõem disciplina produtiva e são um motor de crescimento sustentado.

Em suma, o futuro da economia portuguesa depende, em grande medida, da sua capacidade de reforçar a competitividade externa. Para isso, é imperativo continuar a apoiar os setores exportadores, atrair investimento de qualidade e criar condições para que os bens transacionáveis liderem o crescimento.

Não se trata apenas de vender mais ao exterior, mas de transformar a estrutura produtiva do país rumo a um modelo mais inovador, equilibrado e duradouro.

 

 

 

 

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