ENDIVIDAMENTO – a
Espada de Démocles
“Uma dívida é um lembrete de
que, às vezes, as escolhas financeiras que parecem boas no momento, podem ter
consequências negativas a longo prazo.”
O Endividamento na
economia portuguesa, é um flagelo a quem ninguém escapa. Todos estão
endividados |!
Desde logo o Estado.
Aqui há a distinguir Dívida Pública
à corresponde às
responsabilidades financeiras do sector das administrações públicas e Dívida Externa àmede, para um determinado momento do tempo, o endividamento dos
residentes num país em relação aos residentes no resto do mundo.
Depois, a Dívida das
Empresas -> que corresponde á proporção dos recursos das empresas, derivados
do capital de terceiros, ou seja, a quantidade dos recursos que é oriunda de
empréstimos bancários, financiamento por meio de títulos de dívida ou
qualquer outro tipo de empréstimo que as empresas tenham obtido de
terceiros, em vez de usar seu próprio capital e por fim a Dívida das Famílias à o
endividamento dos particulares, está normalmente associado aos compromissos de
crédito, nomeadamente crédito ao consumo (para aquisição de bens e serviços) e
crédito à habitação, este último, a compaginar-se como a principal fonte de
endividamento das famílias portuguesas.
Relativamente
á Divida do Estado, nos últimos dois anos, estamos a percorrer um caminho
positivo, conseguindo diminuir o seu peso face á riqueza gerada internamente
(PIB), tendo até recentemente visto aumentar o “rating” da divida soberana por parte da DBRS e da Standard &
Poors (para nível A), indicando que os mercados estão a acreditar nas politicas
económicas levadas a cabo pelo Governo.
No que
concerne á Dívida das Empresas, podemos distinguir aqui as Microentidades e as
PME’s, que têm um comportamento muito diferente das Grandes Empresas.
Os
empresários portugueses não foram “habituados”
a capitalizarem as suas empresas. Até há bem pouco tempo, numa Europa a 27,
Portugal só tinha a Roménia atrás de si, no que diz respeito á capitalização
das Microentidades e PME’s, o que demonstra uma míope visão estratégica de
negócio, preferindo esbanjar capital para fins não empresariais. Esta situação
faz todo o sentido, quando sabemos que muitas destas empresas que fazem mais de
90% do tecido empresarial português, são geridas de forma patriarcal e com
pouco rigor na gestão global da empresa, tendo o foco no curto prazo (muitas
vezes a navegar á vista), quando se deveriam deter no médio/longos prazos,
assegurando o futuro das empresas.
Por
fim, o Endividamento das Famílias, que se mal calculado gera focos de grande
preocupação, não só para as entidades financeiras que suportam esse
endividamento e que poderão ter que recorrer á constituição de provisões para
cobrir o riscos dos incumprimentos, mas sobretudo para as Famílias, gerando por
vezes grandes situações de ruptura familiar, que pode levar á destruturação
desse mesmo núcleo, para já não falar na permanente ansiedade que gera a quem
quer cumprir e não sabe como.
E para
aqui chegar, temos 4 situações distintas.
Desde
logo os 3 D à Doença, Divórcio e Desemprego. Qualquer
Família que se encontre numa destas situações, coloca logo em perigo o
compromisso assumido com a entidade credora, levando a uma situação de
incumprimento, que será tão disperso no tempo, enquanto o problema que o
motivou não tiver encontrado solução.
Mas a
maior parte do incumprimento das Famílias, não está nos 3 D, mas sim nas contas
mal feitas ou puramente nunca feitas.
Há
muitos anos que dedico parte dos meus estudos ao Endividamento das Famílias, e
conclui com amostras significativas de populações endividadas, que cerca de 70%
dos incumprimentos erradicam efectivamente nesta quarta hipótese – contas que
não são feitas. Possuem “fé” que irão
conseguir pagar mensalmente o capital mutuado bem como os respectivas juros,
mas depois (e muitas vezes passados só 2 ou 3 meses) acabam por incumprir.
Para
estas situações existem duas alavancas impulsionadoras – a fraca literacia e
disciplina financeira de muitos cidadãos; e por outro lado, a facilidade, com
que os financiadores colocam o dinheiro á sua disposição, particularmente as
SFAC’s, que não tendo balcões, apostam as “suas
fichas” na divulgação on-line ou via meios de comunicação social, para
divulgar as suas propostas de crédito.
Obviamente,
que sendo o risco maior a taxa de juro tem que acompanhar no mesmo sentido, mas
muitas vezes tal política de aceitação de riscos de crédito acaba por não
compensar.
Mas
neste caso poder-se-á colocar a seguinte questão: se as SFAC’s sabem que os
clientes que a elas recorrem são básicamente de um maior risco (estão dispostos
a pagar um serviço da dívida maior do que o Banco onde possuem conta ou ainda,
o Banco onde são clientes lhes “fechou a
torneira” do crédito), por que razão as SFAC’s querem correr este risco?
Certamente porque se acharão recompensadas!
A
palavra às SFAC’s.
E é
neste mar de Endividamento que Portugal mergulhou.
Numa
conjuntura internacional de grande dificuldade e extrema instabilidade em que
vivemos, não será necessário um terramoto, mas somente necessário um pequeno
sopro, um ligeiro abanão ou algum aguaceiro mais prolongado, para tudo isto
ruir, e ai estará a Espada de Démocles, para que de forma impiedosa se irá
fazer brandir.
Sem comentários:
Enviar um comentário