quinta-feira, 21 de agosto de 2025

 

ENDIVIDAMENTO – a Espada de Démocles

Uma dívida é um lembrete de que, às vezes, as escolhas financeiras que parecem boas no momento, podem ter consequências negativas a longo prazo.”

 

O Endividamento na economia portuguesa, é um flagelo a quem ninguém escapa. Todos estão endividados |!

Desde logo o Estado. Aqui há a distinguir Dívida Pública à corresponde às responsabilidades financeiras do sector das administrações públicas e Dívida Externa àmede, para um determinado momento do tempo, o endividamento dos residentes num país em relação aos residentes no resto do mundo.

Depois, a Dívida das Empresas -> que corresponde á proporção dos recursos das empresas, derivados do capital de terceiros, ou seja, a quantidade dos recursos que é oriunda de empréstimos bancários, financiamento por meio de títulos de dívida ou qualquer outro tipo de empréstimo que as empresas tenham obtido de terceiros, em vez de usar seu próprio capital e por fim a Dívida das Famílias à o endividamento dos particulares, está normalmente associado aos compromissos de crédito, nomeadamente crédito ao consumo (para aquisição de bens e serviços) e crédito à habitação, este último, a compaginar-se como a principal fonte de endividamento das famílias portuguesas.

Relativamente á Divida do Estado, nos últimos dois anos, estamos a percorrer um caminho positivo, conseguindo diminuir o seu peso face á riqueza gerada internamente (PIB), tendo até recentemente visto aumentar o “rating” da divida soberana por parte da DBRS e da Standard & Poors (para nível A), indicando que os mercados estão a acreditar nas politicas económicas levadas a cabo pelo Governo.

No que concerne á Dívida das Empresas, podemos distinguir aqui as Microentidades e as PME’s, que têm um comportamento muito diferente das Grandes Empresas.

Os empresários portugueses não foram “habituados” a capitalizarem as suas empresas. Até há bem pouco tempo, numa Europa a 27, Portugal só tinha a Roménia atrás de si, no que diz respeito á capitalização das Microentidades e PME’s, o que demonstra uma míope visão estratégica de negócio, preferindo esbanjar capital para fins não empresariais. Esta situação faz todo o sentido, quando sabemos que muitas destas empresas que fazem mais de 90% do tecido empresarial português, são geridas de forma patriarcal e com pouco rigor na gestão global da empresa, tendo o foco no curto prazo (muitas vezes a navegar á vista), quando se deveriam deter no médio/longos prazos, assegurando o futuro das empresas.

Por fim, o Endividamento das Famílias, que se mal calculado gera focos de grande preocupação, não só para as entidades financeiras que suportam esse endividamento e que poderão ter que recorrer á constituição de provisões para cobrir o riscos dos incumprimentos, mas sobretudo para as Famílias, gerando por vezes grandes situações de ruptura familiar, que pode levar á destruturação desse mesmo núcleo, para já não falar na permanente ansiedade que gera a quem quer cumprir e não sabe como.

E para aqui chegar, temos 4 situações distintas.

Desde logo os 3 D à Doença, Divórcio e Desemprego. Qualquer Família que se encontre numa destas situações, coloca logo em perigo o compromisso assumido com a entidade credora, levando a uma situação de incumprimento, que será tão disperso no tempo, enquanto o problema que o motivou não tiver encontrado solução.

Mas a maior parte do incumprimento das Famílias, não está nos 3 D, mas sim nas contas mal feitas ou puramente nunca feitas.

Há muitos anos que dedico parte dos meus estudos ao Endividamento das Famílias, e conclui com amostras significativas de populações endividadas, que cerca de 70% dos incumprimentos erradicam efectivamente nesta quarta hipótese – contas que não são feitas. Possuem “fé” que irão conseguir pagar mensalmente o capital mutuado bem como os respectivas juros, mas depois (e muitas vezes passados só 2 ou 3 meses) acabam por incumprir.

Para estas situações existem duas alavancas impulsionadoras – a fraca literacia e disciplina financeira de muitos cidadãos; e por outro lado, a facilidade, com que os financiadores colocam o dinheiro á sua disposição, particularmente as SFAC’s, que não tendo balcões, apostam as “suas fichas” na divulgação on-line ou via meios de comunicação social, para divulgar as suas propostas de crédito.

Obviamente, que sendo o risco maior a taxa de juro tem que acompanhar no mesmo sentido, mas muitas vezes tal política de aceitação de riscos de crédito acaba por não compensar.

Mas neste caso poder-se-á colocar a seguinte questão: se as SFAC’s sabem que os clientes que a elas recorrem são básicamente de um maior risco (estão dispostos a pagar um serviço da dívida maior do que o Banco onde possuem conta ou ainda, o Banco onde são clientes lhes “fechou a torneira” do crédito), por que razão as SFAC’s querem correr este risco? Certamente porque se acharão recompensadas!

A palavra às SFAC’s.

E é neste mar de Endividamento que Portugal mergulhou.

Numa conjuntura internacional de grande dificuldade e extrema instabilidade em que vivemos, não será necessário um terramoto, mas somente necessário um pequeno sopro, um ligeiro abanão ou algum aguaceiro mais prolongado, para tudo isto ruir, e ai estará a Espada de Démocles, para que de forma impiedosa se irá fazer brandir.

 

 

 

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